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31 de julho de 2013

I. A Inteligência Espiritual - escrito em 1996!


Um dos pontos chaves da minha aprendizagem surgiu numa palestra sobre o estado do mundo há mais de vinte anos, na qual o conferencista fez a seguinte pergunta: “Você faz parte da solução ou parte do problema?” Isto me fez refletir profundamente se eu estava contribuindo com alguma ação prática para melhorar a parte do mundo com a qual tive contato. Ao invés de passar meu tempo procurando, analisando e criticando defeitos nas coisas e nas pessoas, tratei de observar o que acontecia dentro de mim. Mais tarde eu pude ver que estes três aspectos fundamentais da vida estavam completamente interligados conforme o diagrama seguinte:
Há pessoas que são excelentes em organizar coisas, programas e eventos no que diz respeito ao planejamento, ordem, horários e números. Quando tratam de colocar outras seres humanos dentro do seu esquema ‘inteligente’ não conseguem fazer funcionar com a mesma facilidade o que consta no papel ou nas suas cabeças. A razão simples é que não conseguem ver que outros indivíduos têm seu próprio livre arbítrio, atributos, perspectivas e jeito de ser e fazer. Falta a sensibilidade de compreender esta simples verdade ou detectar o momento e o espaço sagrados para o outro. Quando delegam não têm a paciência de preparar seus colaboradores para as tarefas, mas não hesitam em cobrar (aos gritos às vezes) a falta de preparo.
Há muitos que são excelentes em relacionar-se com os outros respeitando o direito inalienável de cada um ser o que é. São capazes de inspirar amor e compreensão pela doçura e percepção que têm do estado dos seus interlocutores. Entretanto, ao organizar uma atividade que requer uma compreensão de detalhes, logística, quantidades e cronologias elas se perdem, esquecem tudo e geram confusão.
Existem aquelas que sabem administrar bem as coisas e as pessoas mas sua vida interna é uma montanha russa de altos e baixos que, só com um enorme esforço, não deixam transparecer. Os pensamentos, emoções, desejos e imagens se pipocam na tela das suas mentes de uma maneira tão desordenada que o mundo externo se torna o lugar de fuga para não ter que ficar dentro das suas cabeças com seu transtorno interno. Surgem assim os trabalhólatras e dependentes emocionais em relacionamentos. Se dedicam às coisas e/ou as outras pessoas para escapar da falta de sossego na casa do ser.
A firmeza, determinação, perspicácia, coragem e outros valores ativos importantes em pessoas decisivas têm que estar casados com valores passivos com a paciência, tolerância, afetividade e sensibilidade quando se trata de convivência com outros seres humanos. Os dois tipos de valores nascem e são nutridos pela espiritualidade.
O verdadeiro equilíbrio entre organizar coisas e pessoas requer a auto-administração e uma dose boa de outro quociente — o espiritual. (cont.)


Este artigo é do meu livro "Endoquality: As Dimensões Emocionais e Espirituais do Ser Humano nas Organizações", publicado pela Editora Casa da Qualidade (1997). Foi neste livro que introduzi a Inteligência Espiritual, a primeira vez que apareceu o conceito num livro, pelo menos no Brasil. No mesmo ano saiu o livro "Rewiring the Corporate Brain" de Danah Zohar no qual ela falou da Inteligência Espiritual. Só cheguei a ver este livro anos depois. Definitivamente a sincronicidade estava acontecendo.

O edifício do ser


Há quatro fases na construção de um edifício — o estudo sobre o conceito básico da construção, a avaliação do local, o projeto arquitetônico e a execução da obra. Da mesma forma, existem quatro passos para melhorar nossa qualidade interna:
• Embasamento conceitual
— o que é qualidade e onde se aplica; noções da visão sistêmica ou visão holística dos processos, e a importância do indivíduo nos diversos sistemas dos quais faz parte;
• Avaliação da situação atual
—porque as instituições e os indivíduos que as compõem não estão se desenvolvendo plenamente;
• Projeto da mudança pessoal
— como planejar e iniciar uma transformação pessoal para adquirir “qualidade total” na vida;
• Construção de uma vida melhor
— a motivação e a prática de auto-reflexão para desenvolver relacionamentos pró-ativos.
Um dos pontos de aprendizagem que sempre me anima em direção a esta meta é o seguinte:

As pessoas que se empenham em se aperfeiçoar não têm como perder. Se o mundo melhorar, elas estarão mais preparadas para assumir seu lugar nele do que aquelas que não se preparam. Se o mundo piorar, o esforço para desenvolver valores positivos no caráter, agora, faz com que elas enfrentem as dificuldades melhor que aquelas que não se preparam. O esforço para melhorar e as conseqüentes vitórias, pequenas e grandes, já ajudam no presente! Realmente é muito interessante observar e participar da época que no futuro será lembrada como a grande reviravolta.
Ken O’Donnell é autor de diversos livros. Este blog é parte da introdução ao seu livro Endoquality: As Dimensões Emocionais e Espirituais do Ser Humano nas Organizações, publicado pela Editora Casa da Qualidade (1997). Neste livro ele introduziu o conceito de inteligência espiritual.

Gestão de valores – A sustentabilidade pede mudança de atitudes (Parte 1)


A sustentabilidade plena é um grande sonho. Para que isso seja mesmo parcialmente possível, os quatro grupos de atores da peça global precisam rever suas atitudes. Até recentemente, governos estavam preocupados com as condições econômicas, sociais e ambientais do seu reduto. Hoje, os problemas globais gritantes com relação ao aquecimento e as perdas da biodiversidade obrigam os governos a desenvolverem atitudes novas além de suas fronteiras.
Por conta do mesmo conjunto de advertências sistêmicas que assolam os governos, as empresas se vêem compelidas a incorporar preocupações socioambientais nos seus planos estratégicos. O mundo acadêmico – tradicionalmente com sua visão no retrovisor do tempo e preocupado com entender e remediar evidências – adota uma postura mais de prevenção em relação aos desafios complexos à nossa frente. E o público geral? Os padrões de consumo dos ricos e os métodos ineficientes de produção (dos pobres e ricos) são alvos daqueles que apelam por mudanças, não apenas de métodos, mas de atitudes.
Estes quatros atores – governo, empresa, academia e sociedade civil – participam de forma cada vez menos desengonçada na dança de mudanças no palco do momento. Embora a única solução de longo prazo para a sustentabilidade pareça ser a convergência das ações dos quatro, esquecemos frequentemente que a base de todos eles é o indivíduo humano. Atitudes nascem no coração individual, são polidas pela razão e respaldam suas ações. Atitudes são posturas internas que pautam tudo que fazemos. O mundo hoje é resultado das ações de uma coleção grande de indivíduos – quer sejam governistas, empresários, acadêmicos ou povo. As ações são conseqüências das atitudes que temos.

Publicado em  na Revista Idéia Sustentável por Ken O´Donnell*

28 de julho de 2013

Outra palestra, não...


“O Resgate do Homem — Diferencial Competitivo na Era da Excelência” — tal foi o título de um evento recente de recursos humanos cujo material recebi. Um dos temas, de acordo com o folheto, ia mais fundo — “O Resgate dos Valores Essenciais do Ser”. Outros convites para eventos e treinamentos sobre “A Espiritualidade no Trabalho”, “O Ser Humano e a Transformação Organizacional”, “O Lado Humano da Qualidade”, “Os Novos Valores nas Organizações”, “Qualidade de Vida no Trabalho”  vem pelo correio e pelo e-mail. Certamente, mostram pelos títulos, que chegamos aos aspectos básicos nas nossas reflexões sobre os rumos do trabalho e do trabalhador para o novo milênio.
Vendo as pretensões dos temas tão importantes, eu fico pensando se o evento irá abordá-los com a requerida seriedade e profundidade, ou será mais uma festa de falação, das quais já participei de muitos. Seria mais uma sessão de trocas de chavões agradáveis sobre como a mudança do ser humano é importante, como a consciência correta é essencial, como é importante implantar os novos paradigmas que nos levarão à mais glória e ao sucesso? Etc.
Tomamos nossos assentos nas sessões destes cursos e eventos, na esperança de que “esta vez será diferente”, principalmente porque nosso tempo e recursos são curtos. Temos outras coisas mais importantes que perder horas ouvindo mais uma vez sobre os novos comportamentos exigidos pelo momento, que muitas vezes, nem mesmo o próprio palestrante pratica. Depois do entusiasmo provocado pela retórica, das piadas e das exortações da cultura de mudanças, voltamos à realidade do nosso dia-a-dia com a reforçada convicção de que é mais fácil falar do que fazer o resgate do ser humano. Afinal, nós também somos um destes seres humanos que precisa “descobrir e desenvolver seus próprios valores.” É muito bom descobrir os valores necessários para um profissional, mas praticá-los exige poder e autodisciplina extras. Pensar que são os outros no meu trabalho (e não eu) que têm que ser resgatados da sua ignorância e falta de iniciativa, acaba sendo um autoengano muito caro. Qualquer mudança começa com minha própria mudança.
Agora, ouvir de novo que temos que mudar, já começa a parecer desrespeito pelo esforço que já conseguimos fazer. É fácil fazer listas dos valores de que um bom profissional precisa nesta virada do milênio — agilidade, flexibilidade, sensibilidade, coragem, respeito, cooperação, desapego em relação ao passado e tantos outros. Se eu tento me imaginar com todas estas virtudes desenvolvidas plenamente, vejo um ser humano que já se tornou um anjo. Talvez não seja uma má ideia, ser um anjo. Pelo menos, eu não teria de me preocupar tanto se Deus estaria por perto para me dar uma mão quando quer que a jornada ficasse árdua.


Ken O’Donnell é autor de diversos livros. Este blog é parte da introdução ao seu livro Endoquality: As Dimensões Emocionais e Espirituais do Ser Humano nas Organizações, publicado pela Editora Casa da Qualidade (1997). Neste livro ele introduziu o conceito de inteligência espiritual.

27 de julho de 2013

Despreocupação e decisões certas



Uma pessoa que anda pelas montanhas e encontra uma rocha enorme bloqueando o caminho, perde tempo e energia tentando tirar o obstáculo. Se não consegue remover a rocha, desanima-se e reclama do seu azar. Para um piloto sobrevoando o local num avião, aquela rocha não representa nenhuma dificuldade. Ela ainda existe, mas porque ele vê a situação de uma perspectiva diferente, e o seu modo de transporte é outro, prossegue sem o mínimo sentimento de que algo grave aconteceu.
Qualquer situação, por mas difícil que pareça, pode ser encarada sob uma perspectiva diferente. O estado meditativo é o avião de onde posso ver os passos que dei para chegar num determinado local, e enxergar também o que está me esperando à frente. A visão do passado, presente e futuro de cada circunstância ajuda a manter-me despreocupado, sereno e principalmente a tomar as decisões certas .

26 de julho de 2013

Visão futura, ação presente (Parte 3)


A crise mundial não é só uma questão de aprender como conservar recursos e não poluir mais. É o espírito humano que literalmente nos dá a vida que precisa ser reaceso. Quando o trabalho é movido por um propósito levado e imbuído de paixão, os atos, os atores e o palco ganham uma nova vida.
A prática consciente de espiritualidade não é uma resposta simplista para os inumeráveis problemas do mundo, alguns dos quais foram citados acima. É que é a dimensão que tem a capacidade de mudar nossos padrões mentais porque ela se encontra nas raízes deles. Como Einstein nos advertiu, não é possível resolver os problemas com a mesma mentalidade que os criou. Podemos observar este fenômeno na maioria das organizações, desde uma microempresa que tem apenas um funcionário até repartições públicas com centenas de milhares - o erro de pensar que reorganizar as mesmas coisas constitui uma mudança de verdade. De fato, nada de essencial muda se os mesmos padrões mentais ( os mesmos egos com as mesmas visões de mundo) persistem em tentar 'controlar' as coisas.

Uma sociedade complexa e exige uma maneira mais consciente, profunda e significativa de compreender as situações, resolver problemas e de ' ganhar a vida' que podem contribuir positivamente à sociedade e ao meio ambiente. Empresas mais 'espiritualizadas', dirigidas por pessoas verdadeiramente responsáveis em criar futuros e individuais e coletivas mais sustentáveis, é o imperativo número um neste mundo incerto e ambíguo do começo do milênio.

25 de julho de 2013

Visão futura, ação presente (Parte 2)





Num estudo de 21 civilizações extintas, o grande historiador inglês do século 20, Arnold Toynbee, descobriu dois fatores em todas elas - a concentração de riqueza e propriedade nas mãos de poucos, e a incapacidade fazer as mudanças necessárias a tempo. O mundo está doente e precisa de líderes corajosos e sábios.
Mesmo com todos esses avisos tão claros, muitos insistem em aplicar versões diferentes da velha e insuficiente visão mecanicista da realidade numa tentativa de fugir ou adiar as dificuldades. Esta abordagem parcial e limitada, exaltada pelos grandes como Sir Isaac Newton, Sir Francis Bacon, René Descartes e o santos modernos de administração como Frederick Winslow Taylor, está muitíssimo viva. Parece incrível que, 80 anos depois que as implicações da física quântica estilhaçaram o pensamento clássico, muitos ainda acham que o universo de objetos e pessoas é um sistema linear e estático feita de pequenos blocos sólidos que podem ser observados e portanto controlados de uma maneira perfeitamente previsível. A falha básica do velho paradigma está em achar que, através de compreender as coisas podemos impor ordem nelas. O menor tremor da terra demole esta ilusão.
Se pudéssemos apreciar um pouco da complexidade dinâmica do sistema no qual nossas vidas e patrimônios estão investidos, aprenderiamos uma grande lição, especialmente nestes dias de previsões apocalípticas. É muito melhor estarmos preparados para o que vier, do que planejaram meticulosamente para um futuro incerto.
É a hora de parar de fingir que podemos continuar sem um sermos sensíveis as necessidades do nosso planeta. A única utopia de fato, é acreditar que podemos irnos em direção ao futuro melhor sem fazer mudanças fundamentais na maneira que pensamos e fazemos coisas.
Muito se fala sobre o poder do pensamento em mudar a direção que o indivíduo num mundo complexo, mas o poder da vontade é mais forte ainda. Quando este poder está alinhado ao nosso potencial innato, ele se torna irresistível.

Do livro "Espírito do líder - Vol. 1" de Ken O'Donnell, Editora Integrare, São Paulo


24 de julho de 2013

Visão futura, ação presente (Parte 1)



'Quais são os planos para sua empresa daqui quinze anos? Ex-vice-presidente dos Eastados Unidos, Al Gore diz que ‘estarão debaixo de água.'
Tal foi a frase no material publicitário de uma palestra pública em que participei alguns anos atrás em São Paulo de Al Gore, organizada pela Câmara de Comércio Americana. Extremamente desafiadora. Certamente provocante. De modo algum tão exagerada.
O documentário ganhador de Oscar, “Uma Verdade Inconveniente” quebrou recordes de vendas do gênero. Ele já tinha feito mais de 1400 apresentações sobre o tema nos dois anos anteriores para casas cheias no mundo inteiro. A questão é se vamos só escutar ou agir de acordo com suas implicações.
Qualquer que seja o caso, vivemos numa época de transformações fundamentais nunca antes vista na história. As mudanças políticas, econômicas, tecnológicas, culturais e climáticas fazem parte do mesmo pacote de ventos. É um furacão enorme que leva indivíduos, organizações e até países num processo constante de redefinição, reajuste e reposicionamento. Salve-se quem puder é a regra do jogo.
No nível corporativo, muitas das empresas que figuravam orgulhosamente na lista das maiores e melhores da revista Fortune apenas a uma década ou duas, não sobreviveram as tormentas da época atual. Milhões de pessoas foram atiradas para as filas de desemprego, provocado em grande parte pelos "downsizings" and "rightsizings" intermináveis. Um exemplo: a taxa de desemprego para pessoas com menos de 25 anos na Grécia e Espanha atingiu mais de 50% em 2012. No nível individual, temos sido obrigados a desenvolver nova e mais complexas competências, só para manter os nossos empregos, algo que não teríamos imaginado a vinte anos.
A idade do ouro da indústria já morreu. Apesar de que a comunidade empresarial tenha se especializada em gerar empregos e riqueza, também tem contribuído de uma forma muito contundente às disfunções dos sistemas do nosso mundo. O chamado para deixar de fingir que tudo é apenas 'business as usual' está soando nos nossos ouvidos. Existe uma real possibilidade que a busca por lideranças empresariais mais sensíveis às questões de sustentabilidade pode ser tarde demais.
A corrida louca para a sobrevivência de empresas e países durante os últimos vinte anos deixou evidências vergonhosas de guerras e conflitos, uma biosfera seriamente ameaçada, mais se mais pessoas humilhadas e pelo desemprego e/ou pela exclusão econômica. Muitos daqueles que conseguem manter-se razoavelmente empregados, se veem agindo contra os seus valores e princípios, ou sobrecarregados e estressado pelas vidas alucinantemente rápidas e comprimidas. É a hora de repensarmos nossos valores e atitudes.

Do livro "Espírito do líder - Vol. 1" de Ken O'Donnell, Editora Integrare, São Paulo