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28 de julho de 2013

Outra palestra, não...


“O Resgate do Homem — Diferencial Competitivo na Era da Excelência” — tal foi o título de um evento recente de recursos humanos cujo material recebi. Um dos temas, de acordo com o folheto, ia mais fundo — “O Resgate dos Valores Essenciais do Ser”. Outros convites para eventos e treinamentos sobre “A Espiritualidade no Trabalho”, “O Ser Humano e a Transformação Organizacional”, “O Lado Humano da Qualidade”, “Os Novos Valores nas Organizações”, “Qualidade de Vida no Trabalho”  vem pelo correio e pelo e-mail. Certamente, mostram pelos títulos, que chegamos aos aspectos básicos nas nossas reflexões sobre os rumos do trabalho e do trabalhador para o novo milênio.
Vendo as pretensões dos temas tão importantes, eu fico pensando se o evento irá abordá-los com a requerida seriedade e profundidade, ou será mais uma festa de falação, das quais já participei de muitos. Seria mais uma sessão de trocas de chavões agradáveis sobre como a mudança do ser humano é importante, como a consciência correta é essencial, como é importante implantar os novos paradigmas que nos levarão à mais glória e ao sucesso? Etc.
Tomamos nossos assentos nas sessões destes cursos e eventos, na esperança de que “esta vez será diferente”, principalmente porque nosso tempo e recursos são curtos. Temos outras coisas mais importantes que perder horas ouvindo mais uma vez sobre os novos comportamentos exigidos pelo momento, que muitas vezes, nem mesmo o próprio palestrante pratica. Depois do entusiasmo provocado pela retórica, das piadas e das exortações da cultura de mudanças, voltamos à realidade do nosso dia-a-dia com a reforçada convicção de que é mais fácil falar do que fazer o resgate do ser humano. Afinal, nós também somos um destes seres humanos que precisa “descobrir e desenvolver seus próprios valores.” É muito bom descobrir os valores necessários para um profissional, mas praticá-los exige poder e autodisciplina extras. Pensar que são os outros no meu trabalho (e não eu) que têm que ser resgatados da sua ignorância e falta de iniciativa, acaba sendo um autoengano muito caro. Qualquer mudança começa com minha própria mudança.
Agora, ouvir de novo que temos que mudar, já começa a parecer desrespeito pelo esforço que já conseguimos fazer. É fácil fazer listas dos valores de que um bom profissional precisa nesta virada do milênio — agilidade, flexibilidade, sensibilidade, coragem, respeito, cooperação, desapego em relação ao passado e tantos outros. Se eu tento me imaginar com todas estas virtudes desenvolvidas plenamente, vejo um ser humano que já se tornou um anjo. Talvez não seja uma má ideia, ser um anjo. Pelo menos, eu não teria de me preocupar tanto se Deus estaria por perto para me dar uma mão quando quer que a jornada ficasse árdua.


Ken O’Donnell é autor de diversos livros. Este blog é parte da introdução ao seu livro Endoquality: As Dimensões Emocionais e Espirituais do Ser Humano nas Organizações, publicado pela Editora Casa da Qualidade (1997). Neste livro ele introduziu o conceito de inteligência espiritual.