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23 de agosto de 2013

A verdadeira abundância




De uma entrevista com Ken O’Donnell para a Revista Bons Fluídos “Siga A Trilha Do Dinheiro” de Wilson F. D. Weigl / Milton Trajano.

Nem só da relação de gastos e ganhos se constrói uma vida próspera. A abundância de bens materiais, o reconhecimento profissional, o controle das contas do mês estão profundamente ligados a valores como generosidade e desapego.

K: Como em uma reação de causa e efeito, quando estabelecemos metas menos egoístas e direcionamos nossos talentos para proporcionar bem-estar a outras pessoas, atraímos o que se chama de sorte, ou boa fortuna. Que não é nada além de um sinal de que o Universo retribui o que fazemos pelos outros seres humanos.

Dinheiro traz felicidade?
K: Se essa resposta fosse afirmativa, todos os milionários seriam imensamente felizes e os pobres, que são maioria no planeta, infelizes. Ou o inverso. A associação do dinheiro com a felicidade depende não do quanto dispomos, mas de como usamos e como nos relacionamos com nossos recursos. É claro que uma pessoa de recursos modestos vai ter muitas preocupações, como pagar as contas e a escola dos filhos, mas um rico precisa se proteger por trás de muros, ter carro blindado, seguranças. Segundo essa ótica, um nômade que vive em uma barraca no deserto pode ser muito feliz.

Propósitos que atraem a fortuna
K: Quanto mais elevadas nossas metas, mais o Universo contribui para nossa realização material. Quem persegue objetivos egoístas dificilmente vai conseguir a colaboração dos outros egos, ou seja, de outras pessoas.
Ao contrário, quando desejamos melhorar não só nossa situação financeira mas também a de muita gente, isso faz com que mais energia se mobilize com essa finalidade. Por exemplo, quando penso em abrir um negócio que, além de me dar dinheiro, pode empregar mais gente. Quando temos um propósito útil para o mundo, o mundo sempre arruma um lugar para nós.

A ambição
K: As crianças indianas fazem uma brincadeira em que colocam um macaco frente a um vidro com amendoins no fundo. Tentando agarrar o maior número possível de amendoins, o bicho enche a mão, mas não consegue fazê-la passar pela boca do vidro. Em sua ânsia, por não querer largar os amendoins, se agita, bate o vidro e acaba por quebrá-lo e se machuca. Esse jogo ilustra a necessidade de controlarmos a ambição até o limite saudável. Precisamos realmente de tudo o que queremos? Não estamos gastando energia correndo atrás de meros símbolos de status ou de algo de que não sentimos a mínima falta? Essa deve ser uma reflexão constante, senão corremos o risco de nos darmos mal na ânsia de obter algo a qualquer custo, como faz o macaco.

Senhores ou escravos do dinheiro
K: Na Índia, existe uma expressão que mostra a relação entre o ser humano e a vida material: man, tan, dan. No idioma dos hindus, man quer dizer mente, tan significa corpo, e dhan, riqueza. Eles estão juntos como um cocheiro (man), um cavalo (tan) e carroça (dhan). Esta rima ensina que, dependendo de como focarmos nossas energias físicas e mentais, podemos dirigir bem na estrada da vida ou, se colocarmos a carroça na frente do cavalo, seremos dominada pelo materialismo. A riqueza de verdade é a autocontrole.
Assim como o cocheiro tem que conduzir a carroça, precisamos observar o tempo todo como nossa mente conduz nossas ações com o objetivo de obter riquezas. O perigo é a inversão do man, tan, dhan, quando existe o risco de deixarmos a ganância, o apego e a sede de consumo controlarem nossa vida.

O desapego
K: Temos que saber encontrar o verdadeiro equilíbrio, a sensação de segurança e de suficiência dentro de nós mesmos, e não externamente. Se depositamos todas as nossas expectativas em uma aquisição, em um bem material, ou em qualquer coisa fora de nossos próprios recursos interiores, caso isso falhe ou acabe, perderemos nossa estrutura.
No dicionário, o significado do verbo apegar é estar agarrado, preso, colado a algo ou alguém. Mas isso se revela inútil, principalmente hoje, quando vivemos em uma época de transformações tão rápidas e drásticas, em que precisamos nos sustentar sobre nossas próprias bases internas.