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4 de setembro de 2013

As coisas só têm força quando são usadas em seu contexto


          
            Os fortes ventos já haviam se transformado numa brisa fria quando o menino saiu para caminhar pela praia. Foi então que um objeto, já esbranquiçado pela ação do tempo, chamou-lhe a atenção. Grosso como a perna de um homem de um dos lados, curvo e adelgaçado do outro, era da altura dos ombros do menino.
            Colocando-o na sua frente com o desvelo de quem está diante de um prodígio, o menino pegou uma pedra e começou a bater para saber do que era feito. Após quinze minutos de muito suor e pouco resultado, seus esforços foram vencidos pela dureza do objeto.
            Com um brilho de alegria nos olhos, o menino tomou a decisão definitiva. Erguendo o objeto e arrastando-o pela areia, puxou-o morro acima até sua casa, a cento e poucos metros de distância.
            Lá, seu pai e o irmão mais velho construíam um muro de tijolos no lugar da velha cerca de madeira que fora derrubada pela pior tempestade de que se tinha lembrança. Ao ver seu filho pequeno arfante, arrastando pela grama um grande objeto curvo, ele perguntou:
            — O que você tem aí?
            — Não sei, pai, encontrei isto na praia. É a coisa mais dura que já vi.
            O pai pegou o objeto nas mãos, examinou-o de vários ângulos e concluiu:
            — É parte da espinha de uma baleia, a que fica próxima ao rabo. Deve ter vindo parar na praia durante a tempestade. Por que trouxe isto para cá?
            Com o orgulho inocente, o menino anunciou sua excelente ideia.
            — Achei que poderia ser usado no muro. É tão forte...
            — Ninguém duvida da sua força, filho. Muitos foram os barcos pesqueiros que sentiram no casco o poder desse rabo. Mas estaria fora de lugar aqui no muro. Não tem nada a ver com tijolos nem cimento. Em vez de ajudar, enfraqueceria a estrutura.
            Inconformado e infeliz, o garoto resignou-se em levar o objeto de volta à praia.
            — Então não serve para nada?
            — Não, filho. Apesar de forte, isso valeria no máximo como objeto de curiosidade.
           
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            De fato, as coisas só têm força e poder quando usadas em seu contexto. Mesmo que eu fosse a pessoa mais paciente do mundo, se a situação exigisse determinação no agir, minha estrutura interior estaria enfraquecida e, por isso, a proteção que teria me proporcionado seria menor. Mesmo que o meu entusiasmo para agir já fosse inquebrantável, se as circunstâncias exigissem uma calma perseverança, eu não seria capaz de suportar as pressões.
A meditação ajuda-me a acumular poderes e virtudes espirituais para que estejam à minha disposição quando e onde eu quiser usá-los.

Do livro "Reflexões para uma vida plena" de Ken O’Donnell, Editora Integrare, São Paulo