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18 de dezembro de 2015

Download da palestra sobre auto-estima de Ken, 17-12-15


No dia 17 de dezembro eu dei esta palestra pela Web - "Dê uma guinada no seus autoestima para 2016" .

Aqui o link para audio, video e Powerpoint,

16 de novembro de 2015

Como o tempo passa!




A visão típica do tempo é mais ou menos assim. 

Alguns de nós que temos idade suficiente, ficamos um pouco assustados quando vemos nossa fotografia de 20 anos atrás. Envelhecemos. Temos menos cabelo, talvez menos dentes e, certamente, mais rugas. Talvez não tenhamos feito todas as coisas que tínhamos planejado. O tempo passou e cobrou seu preço de nós. Então, o que é essa coisa misteriosa que costura dias, meses e anos de forma tão inexorável? Não podemos vê-lo, ouvi-lo, sentí-lo, saboreá-lo ou tocá-lo. O tempo nos muda - nossa aparência física e experiência interior – mas não conseguimos mudá-lo.

Dizemos que ele voa ou se arrasta, mas na verdade ele só rola para frente com a mesma constância de sempre. Não queremos desperdiçá-lo. Estamos sempre inventando novas tecnologias que supostamente nos ajudarão a "salvá-lo". Criamos todo tipo de novo veículo terrestre, aéreo ou marítimo para que possamos ir de um lugar para outro em menos tempo. Mas, muitas vezes esquecemos que o tempo também é a vida.

Vemos ciclos de tempo. A Terra gira sobre seu eixo e nós o chamamos de um dia. Ela faz uma volta completa em torno do Sol e chamamos isso de um ano. Podemos medir o tempo, mas seus segredos mais profundos nos escapam.

Há uma história sobre um turista rico que visitava uma aldeia de pescadores na Amazônia. Ele tentou convencer um pescador de contratar mais pessoas para ajudá-lo.

A conversa foi assim:

Pescador(P) - Por que eu iria fazer isso?
Turista(T) - De modo que você pode pegar mais peixe.
P - Por que eu iria fazer isso?
T - Então, você poderia ganhar mais dinheiro para investir em sua atividade, talvez comprar mais alguns barcos.
P - Por que eu iria fazer isso?
T - Com mais dinheiro você poderia ter algum tempo para relaxar.
- Mas eu já estou relaxado. Por que eu iria querer mais algum tempo?
- Então você poderia fazer o que faço. Durante um mês a cada ano eu me dedico à pesca e deixo todos os meus problemas para trás.
P - Mas eu já estou pescando ...

Você pode ver para onde a história está indo.

O mistério do tempo tem nos assombrado ao longo da história, ao ponto de termos uma relação ambígua com ele. Queremos salvar o tempo, tanto quanto pudermos, mas quando o temos disponível, será que sabemos realmente como fazer o melhor uso dele? Trabalhamos como loucos durante o dia pensando sobre o tempo que teremos para relaxar à noite. Lutamos durante a semana para desfrutar do nosso fim de semana. Nos matamos durante o ano para desfrutar das nossas férias anuais e do nosso merecido descanso. Os anos passam e começamos a planejar nossa aposentadoria, que passa mais rapidamente do que queremos. A velhice traz doença e, finalmente, a morte do corpo acontece. Assim, achamos que nosso tempo acabou. Mas, será?

Compreender o tempo a partir da perspectiva de ser uma alma eterna, desempenhando um papel neste enorme palco do mundo, nos leva a um nível diferente de percepção, no qual o tempo se torna tão importante como a nossa consciência. A vida é uma mistura feliz de ambos.

Trecho de um livro que está para sair. Aguardem:
O Carrossel do Tempo, por Ken O'Donnell

Video "Deep Meditation Experience"


Link para o video em alta resolução. 

6 de novembro de 2015

O custo invisível de conflitos


Há conflitos de todo tipo entre seres humanos. Nesta época de pânico e confusão por causa da crise financeira, eles se tornam mais exacerbados que nunca. Se conflito pode ser definido pelo atrito que acontece quando duas ou mais pessoas ou grupos tentam ocupar o mesmo ‘espaço’ ao mesmo tempo, a possibilidade que isto aconteça neste momento atual de caos, é muito grande.
Este ‘espaço’ pode ser físico no caso de duas pessoas com pressa tentarem pegar o último taxi no ponto. Pode ser emocional quando as partes envolvidas querem possuir as mesmas terras históricas. Pode ser uma briga por incompatibilidade psicológica entre posições, avaliações, interpretações ou ideologias. E geralmente custa caro.
Com tudo que passa, os pavios curtos estão soltos e levam a disfunções nas nossas organizações. Os contatos entre pessoas se tornam mais estressantes e as regras de convivência ficam menos claras. Os relacionamentos, a produção, os planos, os clientes e consumidores e por fim a sociedade e o meio-ambiente – todos sofrem.
Pelo fato de que os conflitos façam uma parte central do convívio humano desde o começo da história registrada pelo menos, dificilmente encontraríamos alguém que nunca tivesse sofrido prejuízo pessoal por causa deles. O problema não são os conflitos em sí mas como os percebemos e lidamos com eles. Bem compreendidos e trabalhados, eles são propulsores de mudanças positivas e necessárias. Se não, podem causar grandes perdas e atrasar nossos melhores planos a pesar das intenções nobres. Frequentemente, não é a melhor idéia que prevalece, mas o ego mais forte ou melhor amparado.
No contexto de empresas, a lista de vítimas de conflitos é grande - oportunidades de negócios perdidas, separação de sócios, desmotivação, alta rotatividade de pessoas, mau atendimento a clientes e eventualmente sabotagem, litígio, assédio e até agressão séria. Dizem que as pessoas não deixam empresas quando pedem as contas. Deixam chefes ou colegas intragáveis.
Pela velocidade alucinante das mudanças e pela defasagem entre o que sabemos fazer o o que temos de fazer,ficamos sem o tempo necessário para compreender e administrar os conflitos no dia-a-dia. A falta de tempo também nos remete a um tratamento superficial e sintomatico dos conflitos sem ir para suas causas verdadeiras. Isso leva a maioria a simplesmente fingir que não acontecem, tentar fugir deles ou abafá-los com os famosos 'panos quentes'. As situações que os conflitos não-resolvidos produzem, perduram e crescem como um cáncer sútil organizacional.

As pessoas realmente só tentam resolvê-los quando são difíceis e caros demais para solucionar. 
Como disse o poeta americano Ralph Waldo Emerson “Só estudamos a geologia depois do terremoto”. O único problema é que o terremoto já causou seus danos.
Quase sempre, os perdedores maiores de conflitos grandes entre interesses econômicos, governos e tradições religiosas são a sociedade e o meio-ambiente. Milhões de pessoas comuns alimentam com suas vidas as guerras e pobrezas causadas pelas intransigências dos políticos As espécies continuam desaparencendo, as floresta minguam e os céus se tornam mais negras e o clima mais quente – muitas vezes pelos embates e degladiações dos ‘líderes’ que não querem ou não podem chegar aos acordos necessários para um mundo sustentável.
Os benefícios que surgem da compreensão para prevenir e lidar com conflitos de uma forma sistêmica são enormes. O lado bom é que conflitos deixam às vistas exatamente os problemas que precisam ser resolvidas e frequentemente apontam às pessoas que precisam entrar, sair ou mudar de lugar na organização.
Imagine uma espécie de ‘egômetro’ na sua empresa capaz de medir o custo de egos exacerbados e seu efeito nos números mensais. Os conflitos definitivamente impactam no balanço. O problema é que são difíceis de medir e portanto ignorados em nome da racionalidade.
Devemos sempre procurar compreender as complimentaridades escondidas nas aparentes incompatibilidades. Há uma história do temor que um rei do atual estado de Gujarat (costa oeste da Índia) tinha quando grandes contingentes de ‘parsis’ chegaram vindo da atual Iran. Eles eram praticantes da religião de Zoroastrianismo (adoradores de fogo) expulsos pelos muçulmanos.
Para mostrar que não havia espaço para dividir com tanta gente, ele mandou um copo grande de leite completamente cheio. A resposta do líder dos parsis foi devolver o copo acrescentado de um pouco de açucar com a mensagem:‘Podemos conviver como leite e açucar’. Assim tem sido até hoje. Não é uma má idéia.

8 de outubro de 2015

Navegando bem no mar dos relacionamentos (2)


Em um post anterior eu escrevi sobre o comércio emocional que acontece nos relacionamentos íntimos. Nós medimos uns aos outros por aquilo que damos ou recebemos. Um dos aspectos que faz com que um verdadeiro intercâmbio de bons sentimentos mútuos seja difícil é a tendência quase onipresente de ver defeitos. Três pessoas estão falando e uma delas vai embora. Os dois que permanecem imediatamente falam sobre quem? Geralmente, sobre aquele que acabou de sair e nem sempre de uma forma cortês.
Certa vez uma mulher me procurou depois de uma palestra pública em São Paulo para perguntar sobre como resolver o problema que estava tendo com seu marido. Nossa conversa foi mais ou menos assim:
- Eu realmente não sei o que fazer com o meu marido. Ele está indo só para o brejo. Ele fica irritado em troca de nada. É muito difícil falar com ele. Ele só me corta. Ele é ... (aqui ela começou a recitar uma lista grande de seus defeitos.)
- Você já tentou falar com ele?- Centenas de vezes! Ele simplesmente não me escuta. Estou realmente preocupada. Ele pode  ter um enfarto a qualquer momento. Às vezes eu acho que ele já está com um pé na cova.
- Ele não pode ser tão terrível assim. Será que ele tem não nenhuma virtude?(Aqui ela ficou em silêncio antes de responder, como se para mostrar que era algo que não estava acostumada a fazer.) Deixe eu pensar. Estou com ele há trinta anos. Ele costumava ser muito generoso e amoroso, mas faz muito tempo que eu não vi sinais disso.
- Você realmente falou com ele sobre isso centenas de vezes?- Não exatamente. Para dizer a verdade, apenas cinco ou seis.
- Você acha que, ao focar-se em seus defeitos, você está ajudando-o a mudar?- Provavelmente que não.
- Vamos dizer que ele esteja fazendo esforço para mudar seu estado terrível. Imagine que ele também tenha se matriculado em um curso de meditação. Ele revelaria este esforço para voce?- Provavelmente que não.
(Aqui eu dei uma imagem que ela não iria esquecer.) Você diz que ele tem um pé na cova. Imagine que ele esteja deitado em um caixão tentando sair. Você sabe onde sua atitude de só ver seus defeitos coloca você? Sentada na tampa!Ela deu um pequeno salto e disse:
- Oh meu Deus do céu! O que devo fazer para ajudá-lo então?- Não significa que você não vai estar ciente de seus defeitos. Mas você tem de treinar-se para ver suas virtudes por detrás deles; é como ver diamantes na forma bruta por entre as pedras.
Nós conversamos um pouco mais e ela partiu determinada a mudar sua atitude.
Este é provavelmente o aspecto mais importante de ser capaz de viver e trabalhar com outras pessoas. Se eu quero que eles melhorem, a última coisa que eu deveria fazer é um rosário de seus defeitos e repeti-los para mim mesmo e para os outros. Eu deveria me enfocar me nas suas especialidades.
A afirmação famosa vem à mente:
Onde vai a atenção, a energia flui.
Onde flui a energia, a vida cresce.

Se eu der atenção a defeitos dos outros, eu os ajudo a cultivá-los não só neles, mas em mim mesmo.
Uma vez eu estava passeando pelas ruas de Budapeste e, apesar de poder ler as placas e outdoors,  eu não sabia o que significavam. (Húngaro é uma das cerca de cem línguas que usa letras romanas igual ao português.)
Da mesma forma, só posso identificar e pensar sobre o significado de defeitos, se eu também "falar a língua deles”. O desafio é ser capaz de se concentrar nas virtudes dos outros, apesar de estar ciente dos seus defeitos. Isto ajuda as pessoas e a mim também. Afinal, nas profundezas da alma, eu também falo a língua de virtudes.

28 de agosto de 2015

Navegando bem no mar dos relacionamentos

 

Conexão e comunicação

Eu tenho um novo notebook que tem apenas uma conexão micro HDMI para a apresentação de vídeo. O projetor que estava disponível para um retiro recente sobre o tema deste post era velho e contava com apenas um conector VGA. Eu tinha um adaptador, mas simplesmente não conseguia fazê-lo funcionar. Um problema de conexão e comunicação. Coincidência? Como interagimos e como nos comunicamos são exatamente os dois campos que definem a qualidade de qualquer relacionamento. Embora a maioria das pessoas havia vindo para o retiro para entender como consertar ou fortalecer o relacionamento com seus esposos ou namorados, o tema foi muito mais amplo.

Existem quatro relações básicas:
  • Comigo
  • Com os outros
  • Com o mundo em torno de mim
  • Com Deus

Eu comigo

De certa forma eles estão todos conectados e todos começam comigo. Como eu entendo meu eu interior e aprecio quem eu realmente sou, determina todo o resto. Se eu não for capaz de criar um senso de valor interior que permanece relativamente constante, não importa o que aconteça, isso acaba afetando a forma como me relaciono com os outros, com o mundo e com Deus. Em termos simples, se eu não amo a mim mesmo eu não posso amar os outros, o mundo ou até mesmo Deus.
Então, como posso me conectar com meu eu profundo?
Enterrado sob o turbilhão de pensamentos, sentimentos, memórias e apreensões confusos que geralmente compõem o nosso estado de consciência superficial, existe o que pode ser chamado de fundação do eu. Ela é composta por algumas qualidades básicas, tais como amor, paz, felicidade, verdade e pureza. Se eu remover todas as associações que brotam da minha identidade física - idade, sexo, cultura, religião, origem social e educação - este eu original que sou ainda assim existe, como um ser espiritual com as qualidades acima. Devido a não ter conhecimento deste segredo profundo ou não ter o poder de expressar essas qualidades de maneira constante, eu as procuro nos outros e no mundo. Aí o dilema. Eu desejo e espero a paz, o amor e a felicidade dos outros e do mundo  quando eu já as tenho em mim mesmo. Por alguma razão que desconheço, eu não consigo acessá-las. Não importa o que as pessoas ou as coisas façam, o resultado final é que estas não podem compensar o amor, a paz e a felicidade que eu fui incapaz de me dar. Quando qualquer relacionamento é motivado por essa falta de satisfação interior, ele nunca pode realmente funcionar por muito tempo.

Codependência

Vemos uma típica relação de codependência entre duas pessoas. O acordo tácito é: “Eu vou te amar, se você me amar. Você infla o meu ego, eu vou aumentar o seu. Se não, cuidado”. Cada lado acha que o outro precisa ser uma espécie de fonte constante de amor, paz e felicidade, quando nenhum dos dois é. A base de um relacionamento sólido e de longo prazo é o dar, e não o tomar ou o tentar tomar. Mesmo assim, não é apenas uma questão de dar. É dar sem contar o que eu dou. "Eu dei pelo menos dez exemplos de quanto eu amo você nos últimos seis meses. Você não me mostrou nenhum. Não é justo!"
Entretanto, não são apenas os episódios de amor e respeito para os quais mantemos um registro. Todos os tipos de ações estão sob o escrutínio de ambos os lados.
Outra conversa típica entre dois codependentes:
- Quantas vezes eu lhe disse para não me interromper quando eu estou falando para os outros?
- Mas você faz exatamente a mesma coisa comigo. Eu não posso contar as vezes que você já fez.
- Eu odeio quando você tenta me controlar.
- Mas não é isso que você faz comigo o tempo todo?
- Etc. etc.
Este tipo de comentário ou pensamento permeia os relacionamentos codependentes. Em vez do amor genuíno e incondicional, há uma espécie de comércio emocional. O amante e o amado se tornam contadores de ações um do outro. A compreensão e a compaixão tornam-se reféns do jogo de ganhar ou perder do ego.

Um pé na cova

Depois de uma palestra em São Paulo uma vez, uma mulher veio até mim para reclamar sobre o marido - que ele não era bom, que demonstrava um comportamento estranho nos seis meses anteriores, que ela tinha falado com ele "centenas" de vezes sem resultado, que a forma como ele estava indo, provavelmente morreria e assim por diante. Perguntei-lhe se ele, por acaso, tinha quaisquer virtudes. Ela hesitou por um bom tempo antes de dar uma resposta. Esse silêncio provavelmente significava que ela não tinha pensado sobre suas virtudes por meses ou mesmo anos. Perguntei-lhe se a sua visão constante de defeitos do marido o ajudava ou o prejudicava. Ela respondeu que claro que não iria ajudá-lo. Então eu deixei com ela uma metáfora poderosa: "Imagine que seu marido esteja fazendo um esforço incrível para melhorar. É como se ele estivesse deitado em um caixão tentando sair. E lá você está sentada na tampa! "Ela deu um pequeno sobressalto quando ouviu isso. Quando esta ficha caiu, ela realmente me agradeceu por ter lembrado como nossa visão pode ajudar os outros a mudarem ou pode condená-los a nunca sairem do seu patamar.
Não é fácil navegar no mar de relacionamentos, especialmente com outras pessoas que ocupam as mesmas "rotas marítimas". Mas meu pensamento pode tornar o viver e o trabalhar com outras pessoas mais fácil ou mais difícil.
(a ser continuado...)

30 de julho de 2015

Não mate o ego, limpe-o (Parte 3)


Na canção popular, 'Modinha para Gabriela', de Dorival Caymmi e cantada por Gal Costa, é dito:Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou sempre assimVou ser sempre assim, Gabriela, sempre Gabriela
No meu último post sobre não matar o ego, eu compartilhei sobre as limitações de olhar o mundo através do buraco de uma fechadura. Com desculpas a qualquer leitora que se chame “Gabriela”, vou usar aqui o exemplo desta canção. Pelas palavras, fica claro que ela está presa em sua identidade de Gabriela - o que provavelmente inclui seu corpo, seus papéis e, mais definitivamente, a sua história. Ela está tão encerrada na idéia de “ser” Gabriela que nem acredita que pode mudar.
Às vezes ficamos tão absortos em nós mesmos, que não conseguimos enxergar além das nossas próprias limitações. Lembro que uma vez, eu estava me preparando para uma apresentação e quando mexia com o projetor, uma mulher participante do curso me perguntou se poderíamos ter uma conversa sobre algo pessoal. Eu disse a ela que eu estava ocupado, mas que ficaria muito feliz em sentar com ela durante o intervalo. Aparentemente ela não me ouviu e começou a me contar sua história. Depois de algum tempo, eu a interrompi e disse que não estava ouvindo porque realmente precisava terminar o que estava fazendo. Então, mais uma vez eu disse que iria encontrá-la durante o intervalo. Ela continuou falando por mais cinco minutos enquanto eu continuava a fazer o que eu estava fazendo. Finalmente, ela me agradeceu por conceder-lhe aquele tempo e foi embora. Eu não tinha idéia do que ela estava falando. Quando me encontrei com ela no intervalo, perguntei se ela queria falar comigo naquele momento. Ela disse que estava tudo bem, uma vez que já tinha falado comigo mais cedo de manhã. Então ocorreu-me o quanto podemos estar tão absortos em nossas histórias, a ponto de não perceber o que está acontecendo ao nosso redor. (Ela falou dez minutos sem perceber que eu estava fazendo outra coisa!)Quando nós nos enfiamos em uma identidade, caracterizada pela canção acima, o ego tipo-Gabriela filtra tudo.Se houver ofensa, Gabriela é a ofendida. Se houver insegurança, Gabriela se perde no jogo de se comparar com os outros, de comparar seu presente com seu passado e o presente com uma série de possíveis futuros fantasiados. Ela tende a ver os defeitos dos outros à luz de suas próprias virtudes e suas virtudes, à luz da sua falta delas. Ela precisa “estar certa” a maior parte das vezes, de modo a satisfazer o seu próprio senso de ser Gabriela.O diagrama mostra o que precisamos fazer para mudar a autoreferência constante para os nossos próprios egos tipo Gabriela.Há três elementos que precisamos introduzir em nossas conversas internas:
  1. Eu sou o ser espiritual - energia consciente ou alma - e eu tenho um corpo. Ele é meu instrumento para expressar o que está em mim e experimentar o resultado dessa expressão. Esta consciência abre a porta para perceber outros como almas e até mesmo de intuir as dimensões além desta dimensão física. Afinal, se sou uma energia espiritual - e não a minha forma material - há outras questões a considerar.Se eu não sou matéria, então, eu não vim dela. O lugar que tentamos chegar na meditação ou oração e que é lembrado em todas as tradições religiosas - o céu ou nirvana - é uma dimensão de luz, o lar das almas.
  2. Eu sou o ator e eu tenho diversos papéis relacionados com a família, profissão, interações sociais e até mesmo cultura, religião e nacionalidade. Eu sou um e os papéis são muitos. Se eu tiver essa consciência, posso administrá-los melhor. Quando estou com minha família, desempenho papéis de família. No trabalho, eu coloco esses chapéus específicos e faço o que tenho de fazer. Partindo de uma identidade sólida, eu posso controlar melhor meus pensamentos e sentimentos relacionados a cada função. Posso ver que cada ser humano é um ator nesta peça da vida. Eu não posso controlar os  papéis de qualquer outra pessoa. Tenho apenas que prestar atenção aos meus próprios, para entender como harmonizar com os dos outros.
  3. Eu não sou a minha história. Eu sou o protagonista dela. Em um determinado momento durante aa gravidez de minha mãe, eu vim para o útero e comecei a dar vida ao meu corpo minúsculo. Em outro momento futuro, vou deixá-lo. Desta forma, eu posso entender que tenho existido antes desta vida e, mesmo depois também, eu, a alma, vou continuar uma história maior. A história desta vida é apenas um capítulo de um livro. Quando eu uso essa perspectiva, eu posso começar a usar o meu potencial inexplorado para fazer mudanças no curso desta vida.
Utilizando estas três formas poderosas de consciência, podemos realmente mudar a forma como interagimos neste mundo, através das coordenadas do ego limitado - corpo, papéis e história. Deste modo, não precisamos matar o ego (o que de fato significaria matar essas três formas). Temos que aprender a operar melhor através dele sem negar sua importância.

29 de junho de 2015

Não mate o ego, limpe-o (Parte 2)






Como comentei no post anterior, o ego não é o inimigo do empenho  espiritual. A questão está em como o usamos.

A noção popular de ver o mundo através de óculos coloridos é apenas uma parte da história. Muitos factores contribuem para a cor e o formato da lente. Estes reduzem, exageram ou mesmo alteram completamente a forma de como vemos as coisas. Nossas emoções, experiências, preferências e hábitos se juntam no que chamamos de “ego limitado” e nos fazem crer que o que vemos e lembramos realmente existe como tal.

Um rapaz chamado Tony costumava frequentar nosso centro de meditação. Apesar de seu entusiasmo e progresso altos, sua esposa estava de alguma forma contra sua participação no centro. Ele tentava aparecer nos momentos em que sabia que não iria aborrecê-la. Finalmente, ele a convenceu de encontrá-lo no centro depois do trabalho e explicar exatamente o que estava fazendo. A esposa chegou antes e enquanto o esperava, ela ouviu uma conversa entre duas mulheres na sala do lado. Elas estavam falando sobre os doces que tinham preparado no dia anterior.

Disseram: Você viu o quanto as pessoas gostavam do toli ontem? (Toli significa “doce” em Hindi.)

O que a esposa ouviu: Você viu o quanto as pessoas gostavam de Tony ontem?

Assim que Tony chegou, ela pulou em cima dele:

- Você não disse que tinha que visitar cidades vizinhas ontem? Eu acabei de descobrir que você estava aqui divertindo as pessoas.

- O quê? Eu não poderia ter estado aqui. Passei o dia inteiro visitando clientes.

- Não minta para mim. Vamos sair daqui.

Nós não vemos qualquer um deles novamente. Depois de cerca de três meses ele me ligou e lhe perguntei o que tinha acontecido. Ele explicou que tinha esclarecido o mal-entendido da palavra toli. Perguntei se ele queria recomeçar sua prática de meditação. Ele se recusou dizendo que eles ficaram muito envergonhados por tudo aquilo para retomá-la. Isto mostra como o ego limitado sob a forma de ciúme distorce e até mesmo muda o curso dos acontecimentos.

O ego, girando em torno de seus próprios interesses e associações, cores, formas, até mesmo posiciona a lente da percepção de acordo com seus caprichos. Quando a lente é limitada, é como olhar para a realidade através do pequeno buraco de uma fechadura. Isso é mostrado no diagrama acima:

Os primeiros redutores de nossa perspectiva são os sentidos físicos. Nós percebemos apenas cerca de 3 por cento do espectro eletromagnético. Não podemos ver nada antes do vermelho e depois do violeta. Os cães podem ouvir e cheirar melhor que podemos. Muitos insetos e pássaros conseguem navegar devido a uma memória espacial como um mapa, melhor do que muitos seres humanos. Os morcegos se orientam usando o sonar. Imagine-se, por exemplo, se pudéssemos "enxergar" as vibrações das pessoas. As vantagens seriam enormes. Em essência, o mundo que vemos, ouvimos e tocamos não é todo o mundo que existe.

Em segundo lugar, estamos limitados devido à consciência dos papéis que temos de desempenhar. Isto torna-se natural, devido ao hábito. A mãe vê seus filhos como a mãe. Um chefe vê sua equipe como o chefe. Em outras palavras, as tarefas e responsabilidades pressionam os papéis de modo que percebemos as coisas praticamente só a partir dessa perspectiva. Colocamos o chapéu da nossa identidade habitual e muitas vezes não conseguimos ver além disso. Isso se estende a aspectos culturais - raça, nacionalidade, religião e assim por diante. Como seres espirituais que estão representando papéis através das coordenadas de nossa identidade física, não somos os nossos papéis, somos os atores.

O terceiro fator limitante é a nossa própria história. Nós carregamos a memória de tudo o que passamos na infância, adolescência, juventude e outras épocas mais adultas. Todos os eventos e as experiências que tiramos deles, se amutuam nessa pequena janela de percepção. A objetividade torna-se impossível enquanto tomamos a maioria de nossas experiências de forma pessoal. Muitos de nós é como se tornassem CVs ambulantes interagindo com outros CVs.

Por todas as razões acima, é uma algo especial quando percebemos a mesma coisa, da mesma maneira, como uma outra pessoa. Mais uma vez, o problema não é esta lente do ego, mas quão aberta ela é para enxergar a realidade em todo seu esplendor.

Quando há um senso ilimitado do eu, toda a porta fica aberta. Podemos ver as coisas como elas realmente são.

(Mais sobre a abertura desta porta no próximo post).

28 de maio de 2015

Não mate o ego, limpe-o (Parte 1)



(Este é o primeiro post de 3)
Dizem que uma pessoa arrogante se afoga numa tempestade de chuva, porque seu nariz se enche de água. Arrogância não é o ego, mas pode ser. Explico.
"O ego é o inimigo do crescimento espiritual".
Por muitos anos, eu acreditava nisso. Para mim e vários outros, pensava que um dos principais objetivos da prática espiritual era superá-lo. Apesar de esforço aplicado, eu não parecia chegar a lugar nenhum. Era como bater água e tentar criar manteiga. Um belo dia, tive um daqueles insights de mudança de paradigma. Não era uma questão de anular o ego. Tinha que simplesmente elevar a sua função.
Na melhor das hipóteses, o ego é apenas um conjunto de coordenadas que nos ajudam a navegar pela vida. Estes parâmetros, dentro dos quais o ego opera, são essenciais para a vida cotidiana. Imagine se tivéssemos que recriar a consciência dos nossos nomes, formas, endereços, gêneros, idades, profissões e relações todos os dias. Com compreensão e poder espiritual, o ego pode ser um grande agente entre nosso eu mais profundo e a realidade que se forma a nossa volta.
Na pior das hipóteses, é claro, o ego cria uma outra história. Inflacionado ou deflacionado por um senso distorcido de importância ou a falta dela, ele gera prejuízos para nós e outros. Quando a consciência "Eu sou fulano, assim e assado" levanta seu nariz para chamar a atenção, outros egos se embaralham resmungando ou murmurando, reagindo ativa ou passivamente conforme perseguem seus próprios interesses.
Se buscamos um objetivo egoísta, podemos perguntar por que outros egos não cooperam conosco. A resposta é óbvia. Cada ego limitado só pode alcançar até o limite de sua projeção. O egoísmo é apenas o ego limitado cuidando de seu próprio pequeno mundo, onde ninguém vive, apenas visita. A vida passa a ser na maior parte, egos visitando outros egos - um fluxo constante de trocas entre os mundinhos e entendimentos de cada um. Populamos nossas cabeças com outros, sem perceber que a nossa versão de todos eles e, provavelmente, de nós mesmos, só existem como algo filtrado por nossos próprios egos.
Em grego, a palavra ego significa apenas Eu. Foi provavelmente Freud que ortogou ao ego conotações mais amplas, em seu modelo estrutural da psique. Ele descreveu o ego como o mediador entre as motivações desordenadas do eu (o id) e a força ainda mais profunda moralizante que ele chamou de super-ego. Aí reside o problema. No seu papel de interface com a realidade, muitas vezes ele age como um lobo no comando das galinhas. É por isso que o ego se tornou sinônimo de arrogância.
Se o ego soubesse de sua função e trabalhasse para o benefício a longo prazo do eu e das outras pessoas ligadas, seria elogiado por todos. Guiado pela influência das nossas qualidades espirituais inatas e sabedoria, esse senso do eu verdadeiro serviria ao todo ao invés de apenas si mesmo. Infelizmente, ele tem sido mal interpretado e até mesmo execrado pelos puristas e moralistas de toda espécie. Esta foi a minha grande descoberta. Eu não tinha que matar o ego. Só quebrar suas limitações e 'purificar' a sua função. Para isso, eu precisava de um sentido mais preciso da identidade. Foi a hora do verdadeiro 'eu' se levantar.
Através do meu estudo e prática da Raja Yoga eu tenho experimentado que existem basicamente dois "pólos" em que vivemos e operamos. Um gira ao redor da entidade espiritual permanente chamada alma e outro em torno da identidade física temporária - nossos corpos, papéis e "histórias" individuais. O contraste entre o que podemos chamar de consciência da alma e consciência do corpo é mostrado no diagrama a seguir:



O desenvolvimento espiritual significa limpar os filtros do senso de eu que chamamos ego. Ao fazer isso, vemos o mundo e os outros como eles realmente são e deixamos para trás nossas versões distorcidas. Esta é a liberdade que tenho procurado. Eu ainda estou trabalhando nisso.

18 de maio de 2015

Quem nos dá o 'direito' de perder a calma? (Parte 2)


No meu post anterior, eu compartilhei sobre como concedemos a nós mesmos o direito de ficarmos irritados. Ninguém mais faz isso por nós. A  "raiva justificada", que nos acompanha tornou-se de tal forma incorporada em nossa cultura que quase ninguém questiona isso. Ninguém nem aprecia seus próprios aborrecimentos, muito menos os dos outros. É simplesmente aceito como parte da escola de pensamento que "errar é humano". Nem mesmo acreditamos que é possível mudar o que é realmente apenas um hábito profundamente arraigado.
Se assistimos um filme esperamos automaticamente que o vilão perca tudo, que seja morto ou ferido. Se vemos alguém que está sendo tratado injustamente desejamos que eles consiga devolver o troco. Celebramos internamente a derrota dos nossos inimigos, enquanto murmuramos palavras de comiseração. Em geral, há muitos fatores, do passado, presente e futuro que contribuem para qualquer situação. Uma mera leitura superficial não irá revelar as verdades mais profundas que cercam os fatos aparentes. Compreendê-los nos ajudaria a responder com mais calma.
Há uma história que circulava há vários anos sobre um pai e seus três filhos em um trem suburbano em Long Island, Nova York. Ele estava sentado cabisbaixo e triste, totalmente inconsciente de que seus filhos estavam correndo para lá e para cá no corredor aprontando todo tipo de travessuras. Como as pessoas estavam voltando para casa do seu longo dia de trabalho, elas só queria um pouco de paz e tranquilidade para cochilar ou ler.
Os primeiros sinais de irritação apareceram no murmúrio de comentários negativos entre os passageiros. Aos poucos, alguns elevaram seu tom de voz: "Você não pode dar um jeito para controlar essas crianças?" Mas, nem o pai nem os filhos davam a menor atenção. Elas começaram a correr e pular ainda mais.
Finalmente, a mulher atrás dele bateu agressivamente na parte de trás de seu assento com sua guarda-chuva. "Senhor, por favor, faça algo com seus filhos. Você não percebe que estamos extremamente incomodados?"
Ele se virou tristemente e respondeu: "Eu realmente sinto muito, senhora. Acabamos de sair do hospital. Minha esposa morreu esta tarde. Estou um pouco perdido e não sei o que fazer."
A mulher então, anunciou aos outros passageiros o que tinha acontecido. Imediatamente eles se juntaram às crianças e começaram a brincar com elas.
De maneira semelhante, há circunstâncias atenuantes em torno de muitas das coisas que nos incomodam. O problema é que não enxergamos as necessidades dos outros, apenas as nossas próprias.
A indignação é apenas o ego com um halo. O ego finge ser tudo, mas não traz nada a não ser o incomodo.

11 de maio de 2015

Quem nos dá o 'direito' de perder a calma? (Parte 1)


Ninguém gosta quando um outro perde sua calma. Tentamos fugir para longe de seus gritos ou resmungões. Este 'direito’ de perder a calma é sempre cedido pela própria pessoa a ela mesma. Ela não pede a permissão para ficar transtornada ou chateada. Quando é a nossa vez de expressar o descontentamento assim, esquecemos convenientemente o impacto que isso teria em outros.

Crescemos neste mundo complexo acreditando que temos este ‘direito’ diante de qualquer cena da peça da vida que não gostamos. Alguém de repente corta na nossa frente no trânsito; esperamos uma hora por um amigo e ele não aparece; não nos qualificamos para algo, apesar de meses de preparação; alguém nos insulta, direta ou indiretamente ... a lista é grande. Nos defendemos rapidamente em qualquer situação que desafia as ilusões do ego e paradoxalmente saimos correndo quando outro se comporta do mesmo jeito.

Mesmo sabendo que vivemos em um mundo onde tudo pode acontecer a qualquer um a qualquer momento, não precisamos ficar abalados com tanta facilidade. Mesmo assim, o problema é quando esse 'direito' é aliado a uma natureza sensível ou ao perfeccionismo. Tanto os que têm uma natureza como a da flor não-me-toque, como os prepotentes não percebem a insatisfação que geram nos outros. Andamos em cacos de vidro com os sensíveis e fugimos dos prepotentes, enquanto estes ficam perplexos porque não são tão bem-quistos.

Uma vez um amigo me disse que foi criado por uma tia que era tão perfeccionista que nunca estava satisfeita com a própria casa. Uma parte ou outra estava permanentemente em reforma. Quando ela morreu, ainda estava reformando. Mesmo que ela pudesse derrubar paredes e mudar pedaços inteiros da casa de um lado ao outro, nas partes que estavam 'prontas', ninguém podia mover qualquer coisa, mesmo por um centímetro. O ousado que fizesse isso, estaria imediatamente sujeito a uma palestra irada dela, sobre suas mãos sujas ou a proibição de tocar em qualquer objeto. Todos os visitantes já sabiam que só poderiam ir lá sob risco de ouvir gritos desagradáveis. Ela tinha todos os ‘direitos’ e todos os outros nenhum. Na Índia, eles dizem que este tipo de raiva doméstica seca os vasos. Certamente, havia muitas flores murchas naquela casa! Até hoje, este amigo tem dificuldades grandes em lidar com pessoas que exibem traços de autoritarismo.

Depois de ouvir a história, pensei sobre como seria bom se pudéssemos ter esse grau de atenção em nosso estado interior, como esta tia tinha em sua casa física. Pensamentos limpos seriam naturais. A aprendizagem correta produziria as reformas necessárias do nosso caráter. Tudo estaria em seu lugar. Não haveria sequer a vontade de ficar chateado.

Uma das principais experiências que tenho recebido da minha prática de meditação raja yoga é que quando estou mais alinhado (set em inglês) internamente com as minhas qualidades inatas, torna-se muito difícil ficar chateado (upset). Não é só uma questão de ter a vontade de evitar ficar chateado. É necessária uma estabilidade interna de verdade.

Curiosamente, a palavra ‘chateado’ em hindi é ‘naraaz’. ‘Raaz’ significa segredo. Então, ficar chateado é não entender os segredos! Poder ver o quadro completo ajuda muito. Se nos treinarmos para conseguir ter uma perspectiva ampla, vemos mais e compreendemos mais. Amplitude de visão traz a estabilidade. Caso contrário, reagimos insensatamente porque não entendemos os segredos por detrás dos acontecimentos.

3 de maio de 2015

A próxima dimensão de nós mesmos


Um desenho animado sobre ‘Dr. Quantum em sua Visita a Planolândia’ saiu como uma parte complementar do documentário sobre a visão quântica do mundo, ‘Quem somos nós’*. Ele ilustra perfeitamente o dilema que temos como seres humanos.
Planolândia é um mundo de apenas duas dimensões habitado por linhas, círculos, quadrados, polígonos e etc. Os seres deste lugar só têm comprimento e largura. Num diálogo entre Dr. Quantum e um círculo feminino, o dilema fica bem claro. Para cima e para baixo são conceitos tão inconcebíveis, que especular a respeito de outras dimensões é proibido. A pequena círculo tem tanta dificuldade em compreender a palavra 'acima' que ela acha que a voz que ela ouve, mas não vê,é de um fantasma, uma pessoa louca e até mesmo um deus.
A dimensão interna onde o potencial de cada ser espera sua vez, é vista por muitos com a mesma incredulidade que um círculo que tenta entender uma esfera.
A possibilidade de autodesenvolvimento a partir de uma compreensão profunda do ser e do mundo em que vivemos acaba sendo uma pura viagem da imaginação. Somos planolandenses tentando entender a dimensão seguinte.
Numa conversa que tive com um grande amigo que já foi o presidente mundial de uma das maiores empresas de tintas, ele revela a dificuldade de lidar com a próxima dimansão de nós mesmos. Ele disse: “Não somos suficientemente conscientes para enxergar pelas relações que temos, que somos parte deste mundo. É o nível baixo da nossa consciência que reduz nossa capacidade de manter a coerência entre os valores que queremos como seres humanos e os valores que vivemos como ‘seres de negócio’?
Como líderes de nossas famílias, empresas e comunidades, temos a responsabilidade de começar a criar e sustentar a unidade de valores entre o que praticamos e o mundo do qual fazemos parte. Temos de nos tornar conscientes de que somos cidadãos globais que querem viver e contribuir para um mundo melhor para todos nós.”
Bravíssimo!


“What the Bleep do we Know”, Lord of the Wind Films, 2004 (www.whatthebleep.com)

Este texto é do meu livro, Espírito do Líder, Vol. 2, da Editora Integrare

25 de abril de 2015

A liberdade de ser quem sou


A liberdade tem dois lados.
Tenho que estar livre de quaisquer situações e apegos que me derrubam ou me seguram para trás. Também tenho que ser livre para poder expressar meu verdadeiro potencial.
Quando criança, eu adorava ir às praias desertas. Ficava horas olhando as gaivotas que brincavam e deslizavam felizes. Me perguntava “por que os adultos em volta eram tão complicados e pesados por suas próprias decisões?”. Mesmo nessa idade tão jovem, eu também estava preso por muitas coisas que não queria fazer. Muito mais tarde, entendi que a sensação de liberdade das gaivotas estava conectada à sua proximidade de ser o mais natural possível. Em outras palavras, elas estavam apenas sendo elas mesmas. Da mesma forma, a grama cresce sem qualquer esforço. Nuvens se formam, a chuva vem, o sol brilha. A natureza se desenrola em uma sinfonia inexorável do que ela é.
Jean-Jacques Rousseau, o filósofo francês, foi o inventor provável do clichê, “de volta à natureza”. Embora ele mesmo não tivesse conseguido voltar, ele vendia a ideia de forma tão eloquente. Ele expressou este estado com estas palavras: “o homem nasce livre e por toda a parte encontra-se a ferros”. Gerações de pessoas têm procurado a paz e a tranquilidade, longe das ramificações urbanas em suas tentativas de voltar à natureza, pelo menos nos fins de semana. É como se aquela natureza convocasse a nossa natureza interna para um encontro, para haver um melhor entendimento entre as ambas.
Um dos maiores paradoxos é que a liberdade faz parte da natureza original da própria alma. Antes de virmos a esta dimensão física, não temos pensamentos e até mesmo não temos relacionamentos com ninguém e nada. Nesse sentido, somos livres ‘de fábrica’. Então, bate a saudade por uma sensação de liberdade espiritual, quando nós não a temos mais.
Um dos ensinamentos do budismo é que este mundo é um lugar de sofrimento e de que temos de nos tornar livres das garras da roda interminável de renascimento. Fazemos isso através de levar uma vida moralmente correta, de sermos conscientes e sábios no uso de nossos pensamentos, palavras e ações.
Jesus disse que a verdade nos liberta. Mesmo que isso possa soar ingênuo para alguns, é bastante profundo. Não é só uma questão da liberdade, que é o nosso bem mais precioso, mas a compreensão dela. Se colocamos um pássaro em uma gaiola, ou contemos um cão brincalhão com uma correia, vamos observá-los tentando sair imediatamente. Da mesma forma, ser verdadeiro comigo, com as minhas qualidades interiores profundas e na minha relação com o Divino, vai me mostrar automaticamente como manter-me livre ao fazer as coisas e interagir com os outros.
Há uma história sobre um homem rico que tinha um negócio extremamente lucrativo que o mantinha ocupado sete dias por semana. Ele estava tão ocupado que aquilo tinha começado a afetar sua saúde. Ele veio de uma família pobre e seu irmão ainda era um simples pescador. Um dia ele perguntou por que este irmão não poderia trabalhar mais para ganhar mais dinheiro. A troca foi assim:
- Por que eu iria querer trabalhar mais? Eu já tenho tudo o que preciso.
- Se você trabalhar mais, você seria capaz de comprar um outro barco e talvez alugar para outros. Assim, poderia ter outros trabalhando para você.
- Por que eu faria isso?
- Para ganhar mais dinheiro.
- Por que eu iria precisar de mais dinheiro. O que eu ganho é suficiente para pagar todas as minhas despesas.
- Mas se você tivesse mais dinheiro você poderia ser muito mais livre economicamente. Talvez você pudesse comprar outra casa em algum lugar onde você poderia ir e relaxar.
- Mas eu já estou relaxado. Minha vida é simples, fácil e livre.
O significado desta história não é que todos temos que nos tornar simples pescadores. É que temos de organizar nossas vidas de acordo com as nossas necessidades reais, e não as imaginadas.
Certa vez, com um grupo de executivos em Sri Lanka, lhes pedi para para visitar a selva ao redor de onde estávamos acampados, apenas observar o que estava acontecendo no presente e escrever a experiência em seus cadernos. Uma vez que todos estariam sentados sozinhos, lhes pedi a falar em voz alta com a natureza – com as árvores, pedras, folhas, insetos, nuvens, córregos ou o que quer que estivesse na sua frente - e ver o que eles poderiam aprender. Um deles voltou com uma compreensão incrível sobre árvores - como todas crescem em direção à luz, mas que não monopolizam o espaço. À medida que novas árvores apareçam, as mais velhas simplesmente se movem um pouco para o lado para que as novas também desfrutassem da luz.

Tudo isso nos remete à questão fundamental de "quem sou eu?" - o ‘teaser’ eterno para mentes questionadoras. No Alcorão é dito que Deus deu inteligência aos anjos e apetite aos animais. Para os seres humanos Ele deu os dois - inteligência e apetite. É justamente nestes dois pontos aonde ficamos presos. Desenvolvemos o que achamos que é a inteligência e entramos em todos os tipos de amarras. Obedecemos os nossos apetites e nos tornamos prisioneiros dos objetos dos sentidos. Como pássaros segurando em galhos das árvores, oramos a Deus para nos libertar de toda a bagunça que conseguimos criar para nós mesmos. O Divino então nos olharia e diria “que não são os galhos que nos seguram, mas que nós os agarramos”.