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13 de abril de 2015

As pequenas verdades relativas e a grande absoluta


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Vivemos em um mundo que tem tantas opiniões quanto existem pessoas. No Brasil, diz-se que há 200 milhões de treinadores da seleção nacional de futebol. É toda a população! Corajoso é o treinador oficial que se atreva a perder um jogo importante. Na posição de buscador favorito do mundo de informação, através do Google dá para descobrir tudo a favor e contra todo o resto. Café, grãos de soja, leite, trigo - o que você quiser - é bom ou ruim para o seu sistema nervoso, coração, fígado, cérebro e etc. Depende da fonte ou do interessado que pagou a pesquisa. As doenças são inventadas para vender drogas e as drogas são inventadas para promover ou resolver doenças. Faça sua escolha.
Em um retiro recente sobre música e espiritualidade, pedimos aos participantes ouvirem cinco peças de música e verificarem suas reações emocionais - samba brasileiro, heavy metal, clássico, música gospel e o hino nacional. Mais uma vez, houve uma diversidade de opiniões - alguns estavam em acordo, outros em desacordo frontal. O ex-rebelde da geração X que associou sua busca de liberdade nos anos 80 com os acordes estridentes de heavy metal não podia se ver olho no olho com o fã do Adagio em G Menor de Albinoni. O fervor de orgulho estimulado pelo hino nacional em alguns se contrapôs à indignação de outros pelo estado atual do país.
Apesar da pluralidade quase total de pontos de vista no mundo, há uma implicação subjacente de que existem verdades universais. Estas tornam-se a base das nossas leis. Por exemplo, assassinar outros, roubar e estuprar – tudo isso é condenado em quase todas as sociedades. Percebe-se que a conduta moralmente responsável é melhor do que o caos generalizado.
Ao mesmo tempo, muitos olham esperançosamente para a ciência como a melhor fonte de verdades absolutas. Paradoxalmente, a própria ciência nega isso, enquanto se concentra em aperfeiçoar ainda mais ou alterar as suas teorias (e, assim, invalidar 'verdades' anteriores). Basta comparar o que eram as verdades ‘absolutas’ 200 anos atrás com o que se acredita hoje. Duzentos anos a partir de agora, provavelmente iremos rir bastante dos paradigmas científicos de hoje.
Em um nível mais mundano, se um cão é visto vindo e indo da casa de alguém, os vizinhos dizem com absoluta convicção de que o cão vive lá. No entanto, se o proprietário diz que ele é o melhor cão do mundo, só é verdade para ele. Mesmo que apenas 2% da população mundial tenha olhos verdes, isso não significa que aquela é a melhor cor para os olhos. Toda cor é boa. Cada opinião tem algum mérito, pelo menos para a pessoa que a sustenta.
O problema é quando as opiniões são agrupadas em ‘ismos’ (religiões e partidos políticas), e então, elas naturalmente entram em conflito com outras versões da mesma coisa. Isso acontece especialmente com a política ou a religião, quando esquecemos de que, não importa a tonalidade, os ismos são apenas diferentes tipos de equipes jogando esportes com bola. Todos os ismos têm o objetivo de mover a bola de sua crença de um lado do campo ou quadra para o outro. Sempre há metas relacionadas com onde e como colocar a bola, a fim de vencer as equipes adversárias. Cada esporte que usa bola tem as suas regras. No basquete, não se pode tocar a bola com os pés. No futebol, não se pode tocar a bola com as mãos. Se, num jogo de handebol, você derruba alguém ao estilo de rugby, certamente recebe um cartão vermelho. No entanto, você não pode dizer que um esporte é melhor do que o outro. Cada um deles é bom em seu próprio estilo. Apenas desfrutamos da diversidade.
Há uma canção popular brasileira de Gilberto Gil - "Se eu quiser falar com Deus". E se Deus quisesse falar conosco? Ele ou Ela (quem sabe?), provavelmente nos diria algo muito diferente de qualquer coisa que já imaginamos. Isso seria a verdadeira medida absoluta das coisas. Seria como receber uma régua com a qual medir todas as nossas diferentes crenças e comportamentos.
Por exemplo, se Ele dissesse que somos todos pequenos pontos de energia consciente animando nossos corpos, que não teriam vida de outra forma. Que viemos de uma dimensão de luz além do universo físico, tomamos corpos e que, após um vasto processo cíclico, temos de voltar para essa dimensão. Que Ele permanece sempre ali naquele lar de luz e silêncio, justamente onde tentamos visitar sutilmente nas nossas orações e meditações. Que surpresa seria se dissesse que Ele não é onipresente neste mundo físico e que Ele só sabe o que precisa saber. Ele não guarda um livro de todos os nossos pecados, nem Ele se senta no céu vendo o que fazemos ou não fazemos. Ele não envia raios de luz para nos explodir onde estamos, quando não estão nos comportando bem. Ele não tem nenhuma religião favorita, porque todas as almas são Seus filhos.
Em outras palavras, Ele/Ela provavelmente refutaria os mais sagrados dos conceitos criados pelo homem. Há tantas coisas que foram ditas a respeito de Deus por todos os lados. O que Deus, por Sua vez, quer dizer sobre nós e as nossas pequenas verdades relativas? A triste notícia é que não sabemos que não sabemos a medida que cambaleamos para frente. A melhor notícia é que temos uma chance de sermos honestos e aceitar a diversidade maravilhosa em que vivemos.

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