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28 de agosto de 2015

Navegando bem no mar dos relacionamentos

 

Conexão e comunicação

Eu tenho um novo notebook que tem apenas uma conexão micro HDMI para a apresentação de vídeo. O projetor que estava disponível para um retiro recente sobre o tema deste post era velho e contava com apenas um conector VGA. Eu tinha um adaptador, mas simplesmente não conseguia fazê-lo funcionar. Um problema de conexão e comunicação. Coincidência? Como interagimos e como nos comunicamos são exatamente os dois campos que definem a qualidade de qualquer relacionamento. Embora a maioria das pessoas havia vindo para o retiro para entender como consertar ou fortalecer o relacionamento com seus esposos ou namorados, o tema foi muito mais amplo.

Existem quatro relações básicas:
  • Comigo
  • Com os outros
  • Com o mundo em torno de mim
  • Com Deus

Eu comigo

De certa forma eles estão todos conectados e todos começam comigo. Como eu entendo meu eu interior e aprecio quem eu realmente sou, determina todo o resto. Se eu não for capaz de criar um senso de valor interior que permanece relativamente constante, não importa o que aconteça, isso acaba afetando a forma como me relaciono com os outros, com o mundo e com Deus. Em termos simples, se eu não amo a mim mesmo eu não posso amar os outros, o mundo ou até mesmo Deus.
Então, como posso me conectar com meu eu profundo?
Enterrado sob o turbilhão de pensamentos, sentimentos, memórias e apreensões confusos que geralmente compõem o nosso estado de consciência superficial, existe o que pode ser chamado de fundação do eu. Ela é composta por algumas qualidades básicas, tais como amor, paz, felicidade, verdade e pureza. Se eu remover todas as associações que brotam da minha identidade física - idade, sexo, cultura, religião, origem social e educação - este eu original que sou ainda assim existe, como um ser espiritual com as qualidades acima. Devido a não ter conhecimento deste segredo profundo ou não ter o poder de expressar essas qualidades de maneira constante, eu as procuro nos outros e no mundo. Aí o dilema. Eu desejo e espero a paz, o amor e a felicidade dos outros e do mundo  quando eu já as tenho em mim mesmo. Por alguma razão que desconheço, eu não consigo acessá-las. Não importa o que as pessoas ou as coisas façam, o resultado final é que estas não podem compensar o amor, a paz e a felicidade que eu fui incapaz de me dar. Quando qualquer relacionamento é motivado por essa falta de satisfação interior, ele nunca pode realmente funcionar por muito tempo.

Codependência

Vemos uma típica relação de codependência entre duas pessoas. O acordo tácito é: “Eu vou te amar, se você me amar. Você infla o meu ego, eu vou aumentar o seu. Se não, cuidado”. Cada lado acha que o outro precisa ser uma espécie de fonte constante de amor, paz e felicidade, quando nenhum dos dois é. A base de um relacionamento sólido e de longo prazo é o dar, e não o tomar ou o tentar tomar. Mesmo assim, não é apenas uma questão de dar. É dar sem contar o que eu dou. "Eu dei pelo menos dez exemplos de quanto eu amo você nos últimos seis meses. Você não me mostrou nenhum. Não é justo!"
Entretanto, não são apenas os episódios de amor e respeito para os quais mantemos um registro. Todos os tipos de ações estão sob o escrutínio de ambos os lados.
Outra conversa típica entre dois codependentes:
- Quantas vezes eu lhe disse para não me interromper quando eu estou falando para os outros?
- Mas você faz exatamente a mesma coisa comigo. Eu não posso contar as vezes que você já fez.
- Eu odeio quando você tenta me controlar.
- Mas não é isso que você faz comigo o tempo todo?
- Etc. etc.
Este tipo de comentário ou pensamento permeia os relacionamentos codependentes. Em vez do amor genuíno e incondicional, há uma espécie de comércio emocional. O amante e o amado se tornam contadores de ações um do outro. A compreensão e a compaixão tornam-se reféns do jogo de ganhar ou perder do ego.

Um pé na cova

Depois de uma palestra em São Paulo uma vez, uma mulher veio até mim para reclamar sobre o marido - que ele não era bom, que demonstrava um comportamento estranho nos seis meses anteriores, que ela tinha falado com ele "centenas" de vezes sem resultado, que a forma como ele estava indo, provavelmente morreria e assim por diante. Perguntei-lhe se ele, por acaso, tinha quaisquer virtudes. Ela hesitou por um bom tempo antes de dar uma resposta. Esse silêncio provavelmente significava que ela não tinha pensado sobre suas virtudes por meses ou mesmo anos. Perguntei-lhe se a sua visão constante de defeitos do marido o ajudava ou o prejudicava. Ela respondeu que claro que não iria ajudá-lo. Então eu deixei com ela uma metáfora poderosa: "Imagine que seu marido esteja fazendo um esforço incrível para melhorar. É como se ele estivesse deitado em um caixão tentando sair. E lá você está sentada na tampa! "Ela deu um pequeno sobressalto quando ouviu isso. Quando esta ficha caiu, ela realmente me agradeceu por ter lembrado como nossa visão pode ajudar os outros a mudarem ou pode condená-los a nunca sairem do seu patamar.
Não é fácil navegar no mar de relacionamentos, especialmente com outras pessoas que ocupam as mesmas "rotas marítimas". Mas meu pensamento pode tornar o viver e o trabalhar com outras pessoas mais fácil ou mais difícil.
(a ser continuado...)